Em PORTAIS, exposição individual de Soneka (o Makina de Rabisko), somos conduzidos(as) por passagens que levam a uma nova realidade, onde a energia vital flui e se transforma. Suas criações, nascidas da junção entre ancestralidade, cultura hip-hop e sonhos, plantam em nosso imaginário as árvores sonoras que faltam nas quebradas, chamando atenção para o que podemos nos tornar: moradas do bem.

Neste universo de encontros, com referências surrealistas e visionárias, PORTAIS nos convida a refletir sobre o que existe além da matéria. As obras desafiam o público a cocriar e imaginar experiências nesse cosmos.

O nascimento de Zion, seu primogênito, marca um ponto de virada na produção de Soneka. Zion é a chave que abre um novo portal, conectando o artista mais profundamente a algo maior, uma força divina e criativa. A partir disso, ele elabora o mundo que deseja deixar para seu filho e para as futuras gerações, onde a gratidão, o perdão e a harmonia são valores primordiais.

A vida ressurge com uma expressividade consciente, que sobreviveu às catástrofes contemporâneas. As duras reflexões políticas presentes nos mais de 22 anos de carreira são, nesta fase, transformadas em visões de cenários onde as desigualdades são superadas pela coletividade.

A mostra apresenta apenas algumas das milhares de obras do seu acervo pessoal, que transitam entre diversas linguagens artísticas, dos grandes murais ao vestuário e à tatuagem. Dormir muito na infância lhe rendeu o apelido de Soneka. E quem diria que essas horas dormidas se traduziriam em tanta inspiração para criações oníricas? 

Reconhecido nas ruas por seus grafites, Makina de Rabisko continua a revitalizar o espaço ao seu redor, enquanto revigora a si próprio. Desta vez, o lugar transformado é uma antiga brinquedoteca no Recanto das Emas, inaugurando uma galeria de possibilidades para a arte do DF.

Esta exposição nos lembra do poder que a arte tem de criar episódios originais e da importância de sonhar com mundos melhores, onde todos somos viajantes e responsáveis por cuidar do que queremos ver florescer. Boa viagem! 

Gu da Cei

Curador